quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A ponte dos Marmelos

Ponte sobre o Córrego dos Marmelos
 Ao paralisar as obras do Ramal Ferroviário em 1926, na estação de Lima Duarte, situada em amplo pátio no Bairro Barreira, a E.F.Central do Brasil instalou alí um pátio de manobras, que ocupava toda a área do hoje Parque de Exposições Helso Neves. O pátio era dotado de rede de captação de águas pluviais, caixa d'água para abastecimento da caldeira das máquinas a vapor, chaves de mudança de via para manobras, além de área para depósito de materiais de reposição como dormentes e trilhos. Do lado hoje margeado pela Rua Geraldo Ribeiro de Castro, plantou-se longa aléia de casuarinas, belas árvores que davam um ar europeu ao vasto pátio. Disso tudo restam ainda o canal de drenagem, soterrado sob o asfalto, embaixo dos banheiros perto do Palco de Shows e a Caixa d'Água, hoje equipada para aproveitamento na lavagem de veículos de uso da Prefeitura. As casuarinas, velhas e maltratadas, tombaram uma a uma..
O fato de ser a estação de Lima Duarte ponta de linha, fez com que se construísse um mecanismo que permitisse à locomotiva virar se sentido de tráfego, já que, invarialvelmente, o trem teria que retornar à Juiz de Fora.
Há duas formas possíveis de reversão: o giramundo ou gironda, onde a máquina é desengatada dos vagões e segue até uma plataforma circular, que é girada pela força humana ou mecanicamente, ou o triângulo de reversão, em que a máquina percorre sucessivamente cada lado do triângulo de frente, de ré e depois de  frente, invertendo o sentido.
A primeira forma é adotada em locais de reduzido espaço e menor movimento. Tem a vantagem de contar com menos chave de mudança de via.
Em Lima Duarte adotou-se a segunda forma: um curioso aterro em forma de triângulo, com vértices apontando o primeiro para a direção da estação, o segundo para o Rio do Peixe e o terceiro para o Bairro Cruzeiro, foi construído em plena várzea, no local hoje ocupado pela Estação de Tratamento de Águas e o Clube do Cavalo. Em cima dele, foram assentados os dormentes e trilhos e as respectivas chaves de mudança em cada vértice, em que se prolongava um trecho em reta, chamado rabicho. Assim, após o desembarque dos passageiros e cargas, a locomotiva desengatava-se do resto da composição e marchava em direção ao triângulo, passando sobre a Ponte do Córrego dos Marmelos. No triângulo, seguia pela primeira bifurcação à direita, indo de frente até o leito do Rio do Peixe. Lá em nova mudança de chave, seguia em marcha à ré pelo outro lado, indo até a entrada do Bairro Cruzeiro. De lá, por meio do acionamento de outra chave de mudança de sentido de via, seguia de frente de novo para a estação, onde por meio de outra chave, penetrava pelo desvio, passava defronte à estação e ia até próximo a hoje Quadra Poliesportiva. Lá parava, e de marcha à ré, de novo, entrava de novo na linha tronco e engatava os vagões deixados na plataforma pelo outro lado, ficando pronta para retornar à Juiz de Fora.
Essas manobras eram diárias e movimentavam o Pátio, por meio da ação dos manobristas, guardas Chave, manobristas, maquinistas. Era muito comum as crianças serem convidadas a embarcarem na máquina para acompanharem as manobras, ou fazê-lo às escondidas por sua própria conta e risco, aproveitando-se da pouca velocidade de tráfego, praxe em caso de manobras. 
Ao movimento das manobras unia-se o movimento das tropas de burro, dos carroceiros, dos carregadores, dos criados, dos animais. Tudo em torno do trem, naqueles anos, a única porta de saída para o mundo! De trem ia-se à capital de República. De trem chegavam os jornais, as máquinas, as novidades!!
De trem iam os doentes crônicos e isolados os tuberculosos e leprosos. Voltavam no carro fúnebre, todo preto, os mortos ilustres, cerimoniosamente recebidos na estação!! De trem chegavam o Bispo, o Governador, os Deputados, Senadores. A estação era a vida!! Como é triste vê-la só e abandonada!!
A foto acima retrata a Ponte sobre o Córrego dos Marmelos, um pouco do que resta na linha de reversão. Cheia de Mato, suja e escondida, revela ainda sua força, nas formas, nos sinais do tempo e no seu brilhante passado!! Fica na Rua Benvindo de Paula, após o Catú Mineiro, caminho de quem segue da Barreira para o Bairro Cruzeiro. Um dos rabichos do triângulo ainda resiste, sem trilhos, no fundo da sede do Clube do Cavalo!


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