segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Tombamento da Serra de Lima Duarte

 O que seria de Minas Gerais, sem as montanhas? O próprio mar, sem a moldura das montanhas nada mais é que um monte de água reunida, movendo-se sem graça... 
Lima Duarte não foge à essa regra: situada em terreno acidentado , a cidade espalha-se ao sopé da Serra do Rio do Peixe, depois batizada de Serra de Lima Duarte!! Um imenso paredão que se estende desde a Serra da Saudade, na divisa com Juiz de Fora ao Pão de Angú, na divisa com Olaria... 
Sempre visito a Serra de Lima Duarte! Aliás, mais que Ibitipoca. Acho-a mais nossa, menos cosmopolita!! A primeira vez que lá estive, foi em 1986, visitando as cercanias da antiga Torre Repetidora de Televisão, situada no trecho conhecido como Serra da Calçada. Voltei impressionado com a beleza do local e ciente da necessidade de preservá-lo. Retornei a Serra várias vezes.E assim fui fazendo descobertas: grutas, cachoeiras, orquídeas, bromélias, formações rochosas, trilhas antigas, araucárias.... Ah, as araucárias... Belas árvores altaneiras, tronco reto, áspero, galhos em alinho... 
Nossa serra tem ainda alguns grupos de araucárias, algumas bem idosas, como a da foto do pé de página, que tem 3m86cm de diâmetro...Apesar de raras e imunes de corte, essas árvores ainda são vítimas de agressões., que vão desde a ameça do fogo, pisoteio de animais, desgaste do solo, raios e corte. As da foto encontram-se num vale, abaixo do local onde ficava situada a torre de televisão. Um lugar muito belo, poético e tristemente agredido... Lembrei-me de uma estória que meu pai contava, a respeito dos pinheiros: Era costume herdado dos índios o plantio pelos antigos de araucárias, em vista do consumo dos pinhões e da madeira, leve, macia e durável... Por isso, era muito comum plantar-se carreiras de pinheiros pelas propriedades, formando belas aléias ou carreiras, como se diz em mineirês... No final do século XIX um surto de febre aftosa grassou pela região, dizimando todo o rebanho bovino. Os fazendeiros não tinham como sobreviver e a saída foi derrubar os velhos pinheiros, que forneceram madeira e garantiram a sobrevivência de muitas famílias. Porém, não se plantou mais pinheiros e o que se viu foi a quase extinção da espécie, sobrevivente apenas em áreas de difícil acesso, como nos grotões da serra.. Pra piorar, a pecuária expandiu-se ainda mais e os pinheiros foram derrubados por ferirem o gado.. Os que vemos por aí, são sobreviventes.. Belos sobreviventes, com a força dos que desafiam o tempo, as adversidades, os raios e os ventos contrários.

 Esse exemplar fotografado abaixo, é bem peculiar. Abre-se em dois a uns dois metros do solo, e forma a bela copa que está na foto de cima, vazada pelos raios do sol. É o mais idoso do grupo, com idade calculada em mais de 60 anos.Seu tronco foi calcinado pelo fogo criminoso que devastou a Serra de Lima Duarte por quase uma semana em 2007, e só foi detido quando se aproximou da cidade. Bem perto dali, na antiga torre, um novo inimigo avança sobre os velhos pinheiros: pequenas mudas de eucalipto, frágeis ameaças, anunciando o deserto verde que estão plantando do outro lado da serra.
Um imenso deserto verde erguido sobre frágeis bromèlias e orquídeas, plantado no solo quartizítico, ameaçando nascentes e roubando espaço de candeias. Bem debaixo do nosso nariz!!